Na linguagem popular, lagarta é o nome para o primeiro estágio larval dos insetos da ordem dos Lepidoptera (a ordem de insetos contendo borboletas e mariposas). As lagartas da maioria das espécies são herbívoras (folívoras), mas não todas; algumas (cerca de 1%) são insectívoras, até mesmo canibais. Algumas se alimentam de produtos animais; por exemplo, as larvas das traças-das-roupas se alimentam de lã, e as larvas de Ceratophaga vastella se alimentam dos cascos e chifres de ungulados mortos. Ao eclodirem do ovo, as lagartas passam a alimentar-se vorazmente, até atingirem a fase de pupa ou crisálida, que originará o inseto adulto.[1]
O termo lagarta vem do latim vulgar lacarta, do latim lacerta, que significa lagarto;[2] em algum momento, a larva teria sido comparada ao lagarto.[3] Assim como todos os nomes comuns, a aplicação da palavra "lagarta" é arbitrária, visto que as larvas da ordem Symphyta são eventualmente chamadas de lagartas também.[4] Ambas as larvas de lepidópteros e de sínfitos possuem a forma corporal eruciforme.
No geral, as lagartas têm um corpo cilíndrico e mole, que pode crescer rapidamente entre as mudas. Seu tamanho varia entre as espécies e ínstares (mudas) de cerca de 1 mm até 14 cm. O corpo das lagartas é longo e dividido em segmentos: os três primeiros segmentos formam o tórax e os outros dez ou onze, o abdômen.[5]
Há uma semelhança superficial entre as lagartas e as larvas dos sínfitos, uma subordem dos insetoshimenópteros, mas que se distinguem deles pela presença de sete pares de pseudopatas nas larvas de Symphyta, enquanto lepidópteros apresentam no máximo cinco pseudopatas. Os sínfitos também não apresentam crochetes.
As lagartas, como todos os insetos, respiram por meio de um sistema de traqueias. O ar entra através de 9 pares de pequenos orifícios tegumentares, chamados de espiráculos ou estigmas respiratórios.[5] Dentro do corpo, todos os espiráculos se conectam a uma rede de tubos respiratórios que se ramificam nas traqueias e fornecem oxigênio diretamente às células.
A cabeça da lagarta é constituida por uma cápsula resistente e esclerosada. Na maioria das espécies, a cabeça é formada por dois hemisférios, entre os quais se insere uma testa triangular. Os órgãos visuais das lagartas são estemas,[6] também denominados ocelos larvais e que, apesar do nome, não são homólogos aos ocelos.[7] Esses órgãos se localizam na cabeça em uma série de seis estemas, cada um com numerosos fotorreceptores e células nervosas associadas. Em geral, os estemas possuem alta sensibilidade à luz, mas com um poder de resolução relativamente baixo. Algumas lagartas aumentam seu campo de visão e preenchem as lacunas entre as direções detectadas por estemas adjacentes por movimentos exploratórios da cabeça.[6][8]
Em relação à posição do aparelho bucal, com exceção das lagartas mineiras (Leucoptera malifoliella), que têm a cabeça mais ou menos prognata, as lagartas são hipognatas,[5]isto é, apresentam a cabeça em plano vertical e as peças bucais localizadas ventralmente. As lagartas possuem mandíbulas bem desenvolvidas e fortes, adaptadas para à mastigação e trituração.[5]
Algumas são capazes de detectar vibrações, geralmente em uma frequência específica. Lagartas da mariposa Drepana arcuata (Drepanoidea) produzem sons para defender seus ninhos de seda de outros membros da mesma espécie.[9]
Em 2019, um fóssil de lagarta da mariposa Geometridae, datado da época do Eoceno, aproximadamente 44 milhões de anos atrás, foi encontrada preservada em âmbar no Báltico. Foi descrito como Eogeometer vadens.[10][11] Anteriormente, outro fóssil datando de aproximadamente 125 milhões de anos foi encontrado no âmbar no Líbano.[12][13]
Em 2019, um fóssil de lagarta da mariposa Geometridae, datado da época do Eoceno, aproximadamente 44 milhões de anos atrás, foi encontrada preservada em âmbar no Báltico. Foi descrito como Eogeometer vadens.[10][11] Anteriormente, outro fóssil datando de aproximadamente 125 milhões de anos foi encontrado no âmbar no Líbano.[12][13]
Muitos animais se alimentam de lagartas, que são ricas em proteínas. Como consequência, as larvas dos insetos lepidoptéricos possuem diversos mecanismos de defesa contra diversos predadores, parasitoides e também condições ambientais desfavoráveis. As estratégias variam desde mecanismos bem simples até alguns extremamente complexos e envolvem aparência, características físicas, comportamento e compostos químicos, muitas vezes com a combinação de diferentes tipos.[14]
Muitas lagartas desenvolveram defesas contra condições físicas como condições ambientais frias, quentes ou secas. Algumas espécies árticas como Gynaephora groenlandica têm comportamentos especiais de exposição ao sol e agregação[15] além de adaptações fisiológicas para permanecer em um estado de dormência durante o inverno.[16]
Muitos mecanismos de defesa envolvem a aparência, de modo a afastar os inimigos, fazendo com que certas partes do corpo pareçam maiores e mais ameaçadoras. Nesses casos, elas possuem diversos mecanismos de defesa: cores chamativas (apossemáticas), como aviso de perigo, cores miméticas (imitam outras espécies), cores homocrômicas (para a camuflagem).[17]
Algumas lagartas são, de fato, venenosas, apresentando cores chamativas como uma forma de alertar possíveis predadores de seus efeitos intoxicantes e desagradáveis, esse fenômeno é denominado apossematismo.[7]
As lagartas que se misturam ao ambiente muitas vezes conseguem escapar da detecção de predadores e parasitas. Essa tática, chamada de coloração críptica, envolve não apenas combinar as cores do fundo, mas também interromper o contorno do corpo, eliminando realces reflexivos de superfícies lisas do corpo e evitando movimentos repentinos que possam trair a localização.[18]
Outras se imitam objetos do ambiente ou outras espécies, como a lagarta Hypomecis roboraria, que um mimetiza um galho de árvore. Isso vai muito além da imitação de partes da planta: algumas lagartas se assemelham a matéria fecal de pássaros, outras têm grandes manchas semelhantes a olhos no tórax, que criam uma imitação convincente da cabeça de uma cobra.[18]